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Falta de público nas arquibancadas e paralisações de 2020 e 2021 comprometeu as finanças dos clubes com aumento de endividamento e dispensa de jogadores.

Por Pedro Rocha e Gustavo Ferreira

Pandemia do novo Coronavírus agrava situação financeira dos clubes cearenses

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O INÍCIO DA PANDEMIA

Em dezembro de 2019, o médico Li Wenliang enviou mensagens aos colegas de profissão alertando sobre um novo vírus, até então desconhecido, mas com sintomas semelhantes ao da síndrome respiratória aguda grave. O doutor havia identificado sete casos semelhantes ao da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), que levou à epidemia global em 2003. Em menos de um mês, 800 casos foram confirmados na China, e dois casos no Japão e na Coreia do Sul. 

 

A partir disso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) entraria em estado de alerta para a situação. Com a divulgação do primeiro código genético do novo coronavírus, a OMS admitiu que o risco de epidemia global era alto. Na Europa, o novo vírus chegou à França, nas cidades de Paris e Bordeaux, com três casos confirmados. No Brasil, o primeiro caso suspeito foi monitorado no dia 20 de fevereiro, com o primeiro confirmado no dia 26 de fevereiro, domingo de carnaval.


Com o crescimento exponencial da transmissão da Covid-19 ao redor do mundo, a OMS anunciou no dia 11 de março de 2020 a pandemia do novo Coronavírus. A partir dessa elevação de grau da doença, o diretor-geral da agência internacional, Tedros Adhanom, disse que as autoridades dos países são responsáveis pelas medidas de prevenção. “Os países devem adotar uma abordagem envolvendo todo o governo e toda a sociedade, construída em torno de uma estratégia integral e combinada para prevenir infecções, salvar vidas e minimizar o impacto”, declarou.

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Tedros Adhanom/OMS/Divulgação

IMPACTOS NO FUTEBOL

A economia global, seja pelo receio das pessoas em saírem às ruas e serem contaminadas ou pelo respeito às medidas restritivas necessárias, foi impactada. Principalmente no setor terciário, o de serviços, no qual a relação com o consumidor é de fundamental importância para seu desenvolvimento, e uma das áreas incluídas é o futebol. A professora e economista Anna Beatriz destaca que o esporte foi um dos primeiros a ser afetado. “Assim, um dos primeiros setores a ser afetado foi o mercado do futebol, tendo em vista o risco de contágio pelas aglomerações, além de não estar na lista de serviços essenciais”. 
 
Entre os dias 8 e 13 de março, depois de casos confirmados dentro das delegações de clubes, alguns campeonatos de futebol da europa paralisaram suas atividades por tempo indeterminado. Essa medida visava, em um primeiro momento, evitar a alta propagação do vírus durante os jogos entre os torcedores e, também, os próprios jogadores, comissões técnicas e jornalistas.

 


 
A imprensa italiana destacou que uma das últimas partidas jogadas com público no país, entre Atalanta e Valencia, pela Liga dos Campeões, pode ter sido um dos fatores principais para o agravamento da crise. Para o professor de Reumatologia, Francesco Lefoche, o jogo com público de 45 mil pessoas, favoreceu a replicação viral. “A congregação de milhares de pessoas, a dois centímetros uma da outra, ainda mais associada às manifestações compreensíveis da euforia, gritando, abraçando, pode ter favorecido a replicação viral”, afirmou.
 
Porém, as paralisações dessas ligas, com o propósito de salvar vidas, também trouxe um lado negativo para os times: o financeiro. Vários clubes e instituições esportivas sofreram quedas relevantes nos seus orçamentos. Segundo o relatório The European Champions Report, feito pela KPMG, o futebol europeu sofreu perda de 5 bilhões de euros. Jogos sem público, incertezas em contratos de direitos de transmissão e, consequentemente, a diminuição de vendas de jogadores foram as áreas que deram maior impacto para a alta desse número.
 
Na semana seguinte, indo de encontro com o que estava sendo feito na Europa, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) decidiu, no dia 15 de março pela suspensão de campeonatos organizados por ela. Essa medida ocasionou um efeito dominó nas federações estaduais, incluindo a cearense, que dois dias depois optou pela paralisação do Campeonato Cearense 2020.

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Arquivo/Divulgação

CAMPEONATO CEARENSE 2020

O Campeonato Cearense de 2020 teve seu começo logo no início do ano, no dia 5 de janeiro. Pela primeira fase da competição, na qual Atlético Cearense, Ferroviário, Caucaia, Guarany de Sobral, Horizonte e Pacajus disputaram para se classificar para a próxima fase e se juntar a Fortaleza e Ceará. Todos os jogos seguiam, até então, o rito normal de uma partida de futebol, com a presença de público e sem protocolos de biossegurança.

 

Essa realidade, até pouco tempo comum, se desfez no dia 12 de março, quando Fortaleza e Pacajus fizeram o último jogo com a presença de público no estadual. Pois, algumas autoridades, como o Ministério Público do Ceará pediu a paralisação das partidas em solo cearense, por causa do surgimento do novo Coronavírus no estado. Mesmo com o desejo inicial dos clubes em continuar a competição, a Federação Cearense de Futebol (FCF) optou, no dia 17 do mesmo mês, pelo adiamento do Campeonato Cearense, quando já se tinha nove casos confirmados no estado.

 

Inicialmente, antes de confirmada a paralisação, Robinson de Castro, presidente do Ceará, disse ser contra a paralisação do torneio: "Acho que o campeonato local não é pra parar. No máximo, estourando, portões fechados, mas acho que se parar vai prejudicar demais.  É interessante interromper por 15 dias pro país se proteger do vírus, aí se (o coronavírus) não alavancar, em dez ou 15 dias acaba a situação”, afirmou o dirigente alvinegro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Para Marcelo Paz, presidente do Fortaleza, as competições não deveriam ser paralisadas, a continuação com portões fechados era suficiente, mas tempos depois ele mudou de opinião. “Eu, particularmente, mudei de opinião. Defendi que [o campeonato] continuasse com portões fechados, mas diante dos novos fatos, do decreto do governador de estado de emergência e do aumento do número de casos, acho que a gente tem que ter humildade de mudar a decisão”, afirmou.

 

A paralisação e a falta de perspectiva no retorno das partidas impactou os clubes participantes do Campeonato Cearense. Enquanto Caucaia e Guarany de Sobral tiveram que interromper o contrato de boa parte dos seus jogadores, as outras equipes com orçamentos menores tentaram honrar com os seus compromissos o tempo que conseguissem. Entretanto, com o alongamento do período sem jogos, apenas o Atlético Cearense conseguiu permanecer com a maioria dos jogadores do seu elenco original.

 

 “Diante das incertezas, decidimos manter o time, honramos todos os contratos e terminamos o campeonato em julho. [...] Além disso, criamos um protocolo, fomos estudar isso, mas teve um impacto muito grande na formação de atletas, as categorias de base que não funcionaram, as despesas que tivemos que manter para honrar o calendário que se deu no final de julho”, explica Maria Vieira, presidente do Atlético Cearense.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O diretor de futebol do Pacajus, Reginaldo Firmino, relata que foi um momento complicado para a equipe, já que os jogadores tinham contratos até o período da, conforme previamente estabelecido, data final do campeonato estadual, em 26 de abril. “Foi um momento muito difícil, tínhamos um planejamento para terminar a competição no tempo programado no ano de 2020”, declarou.

 

As dificuldades não ficaram somente para as equipes de menor expressão, Ceará e Fortaleza também tiveram que tomar medidas para conter esses danos. No caso do Vovô, a diretoria do clube fez um acordo com o grupo de jogadores para pagar apenas 75% dos salários de abril e maio, gerando economia de 700 mil reais por mês. 15% a serem pagos ao longo dos contratos a partir de julho de 2020 e os 10% restantes os atletas abriram mão. Para o Leão, a redução em porcentagem para o grupo de jogadores foi igual a do Ceará, mas a diretoria executiva renunciou a 15% dos seus vencimentos de forma definitiva, enquanto durar a pandemia.

 

Um suspiro de esperança para as equipes participantes do Campeonato Cearense surgiu no dia 1 de junho, quando, por meio de decreto estadual, foi autorizado o retorno aos treinos dos clubes, que iriam seguir um protocolo de segurança. Assim, os clubes mais afetados correram contra o tempo para, de maneira quase improvisada, conseguir novos jogadores. O Guarany de Sobral, por exemplo, teve que usar jovens atletas de Ceará e Fortaleza para finalizar sua participação. 

 

No dia 10 de julho, outro decreto estadual foi feito, agora para autorizar a realização de partidas do Campeonato Cearense. Depois de discussão com todos os representantes dos clubes, a Federação Cearense (FCF) decidiu retomar os jogos da competição no dia 13 de julho. Nessa data, seguindo os protocolos de segurança feitos pela CBF, Ceará e Barbalha duelavam sem público no estádio Franzé de Moraes, em Itaitinga.

 

O estadual, de maneira especial, seguiu sendo realizado com times desnivelados tecnicamente, em razão do impacto da paralisação, se enfrentando pelas últimas partidas da competição. Na final, em razão do maior poder financeiro e capacidade de conter esses danos, deu Ceará e Fortaleza na final pelo terceiro ano consecutivo.

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Marcelo Paz e Robinson de Castro, presidentes de Fortaleza e Ceará. Arquivo/Divulgação

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Maria Vieira, presidente do Atlético Cearense. Arquivo/Divulgação

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Arquivo/Divulgação

EXPECTATIVA X REALIDADE

CAMPEONATO CEARENSE 2021

Para a sequência da temporada do futebol em 2020, com o cumprimento dos protocolos de segurança e sem a presença de público nos estádios, as negociações para o retorno esfriaram.  Porém, com a diminuição do número de novos casos e óbitos no segundo semestre desse ano, os clubes de futebol estavam esperançosos em ter a volta da bilheteria como uma das fontes de renda. Inclusive, Ceará e Fortaleza colocaram em suas previsões orçamentárias para 2021 o faturamento com venda de ingressos e matchday. O Vovô previu 10,545 milhões de reais com bilheteria, já o Tricolor 12,968 milhões de reais.

 

Entretanto, com o surgimento da segunda onda, pico de mortes e superlotação de hospitais no país, a previsão teve que ser refeita, sem as arrecadações com estádio. Assim, o orçamento do Fortaleza, que previa arrecadação de 113 milhões, foi remodelado e aprovado com receitas de 94,64 milhões de reais, enquanto para o Ceará, a previsão inicial de 151,4 milhões foi revista e fixada em 141,4 milhões de reais.

 

Além disso, mesmo com gestões organizadas administrativamente, os balanços financeiros desses clubes no primeiro ano da pandemia retrataram o tamanho do impacto causado por ela. O Fortaleza, que teve superávit de 3,4 milhões de reais em 2019, acabou o ano de 2020 no vermelho, com déficit de 9 milhões e viu o seu passivo acumular 57 milhões em dívidas. O Ceará registrou superávit mínimo, de 377 mil reais, o menor nos últimos seis anos e apesar de fechar no azul, cresceu seu passivo para 35 milhões de reais, dobrando de tamanho.

 

Para a economista Anna Beatriz, outro fato a se destacar é de que a temporada 2020 terminou em fevereiro de 2021. Assim, os clubes receberam receitas da temporada anterior no ano vigente. “A temporada de 2020 do Campeonato Brasileiro Série A que deveria ter se encerrado em dezembro de 2020 foi concluída apenas em fevereiro de 2021, onde parte significativa das receitas foram reconhecidas e recebidas no ano de 2021, o que impacta diretamente no resultado econômico e financeiro do exercício encerrado em 31 de dezembro de 2020”.

Sem a presença de público e mantendo o protocolo contra a Covid-19, a edição do Campeonato Cearense de 2021 começou no dia 10 fevereiro. As equipes Caucaia, Pacajus, Crato, Guarany de Sobral, Icasa, Barbalha, Crato, Ferroviário e Atlético Cearense disputaram a primeira fase da competição local, buscando a classificação para a fase seguinte, na qual, Ceará e Fortaleza entrariam na competição.

 

Depois de disputada uma rodada da segunda fase, o estadual teve que ser paralisado novamente, por causa do aumento de casos e óbitos na segunda onda da Covid-19. Em novo decreto estadual, publicado no dia 11 de março de 2021 pelo Governador Camilo Santana (PT), o Lockdown foi ampliado para todo o Estado do Ceará e atividades não essenciais foram proibidas, incluindo o Campeonato Cearense.

 

Com situação semelhante a do ano anterior, os clubes cearense de menor expressão sentiram, outra vez, o impacto causado pela paralisação. A maior parte das equipes tiveram que reformular seus elencos, dando destaque ao Icasa, que rescindiu com a equipe já montada há bastante tempo; Caucaia, pois também rescindiu com seus destaques e contratou, em período de testes, jogadores amadores e Crato, que fez parceria para usar os jogadores do Tiradentes.

 

No dia 26 de abril, depois de 45 dias do Campeonato Cearense não poder ser realizado, o Governo Estadual, liberou, por meio de decreto, a realização da competição. Porém, diferentemente do ano passado, as equipes tiveram pouco tempo de treinamento e, logo na semana seguinte, dia primeiro de maio, o estadual já tinha jogos para serem realizados.

 

Além disso, o calendário apertado do futebol brasileiro fez com que as partidas acontecessem em períodos curtos de descanso e preparo. Consequentemente, os jogos da segunda fase e do “mata-mata” do Campeonato Cearense foram marcados por grande falta de nivelamento técnico entre as equipes e isso ocasionou  placares elásticos em diversos confrontos.

 

Repetindo a forma que havia terminado no ano passado, o Campeonato Cearense 2021 teve em sua final mais um Clássico-Rei, o quarto consecutivo.

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Arquivo/Divulgação

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